terça-feira, 24 de janeiro de 2012

NA PORTA DO FUNDO


(Por Diego El Khouri)

Falei tudo que tinha que dizer,
ninguém me ouviu.
Estive perdido em náufragos absurdos
e ninguém me encontrou.
Agora aqui, imundo e só,
escuto vozes que não eram para serem
escutadas,
encontro seres que não eram
para serem encontrados,
molesto corpos que não eram para serem
molestados.
No fundo sou vil, desesperançado,
ingênuo
e isso ninguém me tira.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

À BEIRA DO ABISMO

Terça feira, 12, abril, 2011

À BEIRA DO ABISMO I

Numa manhã quente, perdido em dor e tédio, me encontrei virtualmente com o poeta carioca Murilo Pereira Dias. Foi uma conversa intensa armada com a metralhadora da arte e da indignação. Por acaso salvei essa conversa e posto aqui nesse blog. A internet tem disso, juntar almas perdidas nessa lama que chama-se pra uns vida, pra outros morte.

Diego EL Khouri: manoooooooooo



Murilo Pereira Dias: hj está em plenas trevas
a manhã com aroma morbido
o corpo ainda vivo
sendo retirada as entranhas
e os ossos
estou vendo que estão cercando em pleno vazio
o dominio do silencio
e o esquecimento



D: isso é poesia e sangue, morte e dor



M: novas formas diferentes
é a minha manhã de sexta feira



D: como deseja morrer?



M: sobrio
não sobrio
sombrio
quero morrer de overdose



D: em praça pública?



M: preferencialmente
num quarto cheio de seringas de heroina pendurada



D: quero que meu corpo seja motivo de chacota
ando enfrentando abismos intransponíveis
ta foda, Murilão
to perdendo a lucidez

M: eu nunca quis saber de lucidez
tentei comer ela um dia
mas não deu



D: e essa transa resultou em que?



M: em angustias constantes



D: eu tento sair dessa dor
tenho vontade de mandar tomar no cu mil pessoas



M: isso é pouco



D: que mais?



M: simplesmente desistir e ser egoísta
pensar em vc
e querer que os outros realmente se foda

D: isso é dificil
sentimentos nobres me dominam e me fodem



M: ai sim vc será mais amplo



D: quero liberdade



M: por isso..... assim eu uso a sociedade para ficar longe dela



D: comer o sol numa vez



M: ontem um babaquinha entrou na escola
e matou um monte de aluno e se matou depoi
eu achei ótimo
enquanto todo mundo finge estar chocado
merendeu uma boa bronha antes de dormir



D: hahahaaa

M: estou sem fumar quase 3 dias
estou passando mal
não fumar muito me faz mal



D: eu vivo bêbado



M: se eu beber precisarei de mais fumo
é um vicio trem
tem o vicio maior que chama os outros
depois de beber é fumar cheirar
fudeu



D: fumo, poesia, juntando o sexo teremos deus rebolando nos precipicios do amor?



M: estou muito inutil



D: quer ser útil?



M: Deus se mandou



D: quer seu útil?



M: ser util para acabar com o que resta de inutil
a destruição é util
é necessario guerra
genocidio



D: depois que aprofundei na poesia e na filosofia da vida deixei de sentir amor



M: é lindo
mortem animalium



D: amor é uma praga que tolhe os membros
pior sentimento: gratidão



M:
http://www.youtube.com/watch?v=7PklNJ1YVPI
escute essa opera
ela ajuda anestesiar esses sentimentos escrotos
compaixão



aqui no serviço não tem fone, verei a noite


Denunciar • 10:10
é para fudidos
blackmetal da noruega
8. De Mysteriis Dom Sathanas

Welcome!

To the elder ruins again
The wind whispers beside the deep forest
Darkness will show us the way

The sky has darkened thirteen as
We are collected woeful around a book
Made of human flesh
Heic Noenum Pax
Here is no peace
De Grandae Vus Antiquus Mulum Tristis
Arcanas Mysteria Scriptum

The books blood written pages open
Invoco Crentus Domini De Daemonium
We follow with our white eyes
The ceremonial proceeding

Rex Sacriticulus Mortifer
In the circle of stone coffins
We are standing with our black robes on
Holding the bowl with unholy water
Heic Noenum Pax
Bring us the goat
Psychomantum Et Precr Exito Annos Major
Ferus Netandus Sacerdos Magus

Mortem Animalium


D: massa demais
conhece a banda cativeiro de grindcore aí de Niterói?


M: de skin
ruben
na batera
e vocal

D: sim



M: conheço ...antes era o gore
conheço ruben desde criança



D: ele é uma alma brilhante e revoltada, um gênio
queria ter conhecido ele quando estive no rio



M: foda...manda bem na porra toda
toca pra k



D: adoro cãoversar com ele



M: estou na abstinencia horrivel

muito bom

sofrer

tormenta

pqp



D: escreve um verso, toca sua gaita satânica



M: uma hora poderá sair qquer coisa
nunca penso em escrever
o espirito me usa
e escreve o que pensa


D: também a poesia cai assim em minha alma, é como se os demônios e anjos me usassem

sou uma marionete filho da puta

M: os espiritos se fodem comigo

eu gasto a paciencia deles

hj eu quero que eles se fodam

D: vc poderia ter entrado no Coletivo Zine

cagar nas regras
M: eu ja acho que ando me envolvendo

muito querendo melhorar o mundo

na verdade deveriamos fazer o jogo deles e almeja a guerra mais rapido

para a extinçao não tardar

D: não consigo te ver na camisa de força do sistema


M: fingindo ser
a arte da mentira
enganar os traidores
não ter integridade
não ser elo
ser impar
solitario
não pertencer
a jogoalgum
somente ao fim
seja bom ou mal
o fim de tudo
D: ando buscando ar e não encontro, estou todo mutilado e cada buraco de minha alma é uma história a mais de tragédia
fazer o que eu quero é trair o senso comum e gerar inimigos e reprovações


M: depende de onde estará vendo isso
pode ser uma boa visão
D: quero antes a alienação dos vicios, a mentira do amor, tudo desamor
boa visão?

M: aquele que prefere ser odiado
o caos
porque é ruim
o fim
se teremos que viver o fim
porque menosprezar o caos
menosprezar as fezes
a moerte
porque evidenciar mulheres lindas
jovens e gostosas
foda-se
seja linda as velas
banguelas e doentes
as gordas entupidas
ascari
escaras
dolorosas

estou bem
triste = estar feliz
feliz = estar enganado
enganado = estar no caminho certo
caminho certo = morte
incognita.....
mas derradeira e unicamente a certeza
D: pra vc o que é o amor?

é a mentira revestida em beleza?
...

isso te calou, cortou seu raciocínio? seu calcanhar de Aquiles?



M: ....... amor não existe
nunca existiu é a maior mentira
um sentimento falso
na verdade existe interesse
não amor
mesmo assim amor esta ultrapassado
e alguns babacas conseguem sofrer por amor
mas estão sofrendo por falta de interesse
acaba a grana
acaba o sentimento
mulher... amigos...familia.... tudo é um jogo de interesse
alguns menos deprimentes
alguns vão até o fim
adentrei o cemiterio esquecido e vazio
abandonado
sem corpos
sem alma
sem aroma morbido
realmente não encontrei nada
não tem conclusão
nem desfecho
apenas segue os dias sentindo carencia
de algo que destroi
que é necessario ao fim
então mais uma vez enganei
e não fui
e amorte se fudeu
D: não consigo mais sentir amor por mulher nenhuma, quero apena que meu pênis faça morada em várias entranha, sujas ou limpas, não importa,deixei de ser o platônico sentimental a muito tempo
perdi o último resquício da inocência
M: eu não tenho mais contato fisico
não faço mais uso desse movimento
falo com as pessoas
não toco mais nelas
não encosto em ninguém
não gosto de ser tocado
gosto da minha solidão
e meu teclado
meu quarto escuro em plena manhã
foda-se as responsabilidades
D: abandonou o sexo?


M: foda-se querer alguma coisa
D: não entendo...


M: estou usando o fim
não vejo pessoas
não saio do meu tumulo
panteon
se alguma defunta vier aqui
não irei cavar covas procurendo vaginas podres
não preciso dessa merda de prazer
inutil
reprodutor
acaba em mim a herança
de mim não sairá descendentes
somente destruição
em forma de obras
e tbm não sou demonio
rotulo capitalista de igreja
foda-se igreja
foda-se demonio
pessoas não entendem o alem
dessamerda

de cosmos
essa merda de vida
inutil e sem sentido
preciso entrar na porrada
D: eu cansei da porrada
onde encontro seu livro, irmão?
quero me sangrar também em seus versos, mandar a merda o mundo
as ilusões referida aos tolos sacerdotes e deuses sem carne


M: não publiquei
so tem ele no site que Fabio postou
tem um na minha pagina
D: livro todo?
M: estou procurando...nem sei onde esta
tem postagem pra k
http://www.slideshare.net/ARITANA/livro-murilo
obra completa
sem edicção
tome um certo cuidado ao ler


D: postei a entrevista que vc fez no molho livre, uns chegaram em mim e te chamaram de gênio, outros de louco
cuidado?


M: pode pirar de vez
esse é o sentido
causar paranoia
sou um genio louco
das coisas se sentido
que fazem sentido
com eloquencia enloquecer
pooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
esse é o sentido
causar paranoia
sou um genio louco
das coisas se sentido
que fazem sentido
com eloquencia enloquecer
pooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
achei uma berolta

da para apertar um fino
pqp
pqp
pqp
pqp
felicidade
fumar
pera ai
pqp
fumar
uma ponta deu uma onda de acido
tudo sai da conexão
isso é harmonia
estar confuso
em linhas tortas

D: achou?


M: foi breve
mas angustiante


D: como? vem até vc a loucura?
M: o importante e sentir desespero
Heic Noenum Pax
Here is no peace
De Grandae Vus Antiquus Mulum Tristis
Arcanas Mysteria Scriptum

D: uma dose de morfina pra calar os sentidos
os profetas bailando nus em ondas de volupia sem dor
sem sentimentos
o vácuo
nada mais


M: tudo é breve


D: breve como essa nossa conversa
vou me ausentar
até logo
M: blz



quarta-feira, 4 de maio de 2011

À BEIRA DO ABISMO (II)

Mais uma parte da conversa virtual entre eu e o Murilo Pereira Dias. Mais um dia cinza onde a metralhadora da arte criou vida e voz:

Murilo Pereira dias: ae bro
chamas na mente
incendiando a consciencia fragmentada
em busca de cinzas morbidas
coletivas histeria
compaixão ...e assassinatos
chamas
dança da chama
que chama quem chama
não chega
não vem
nós vamos
ao crepusculo
dominar a semente
o calice

Diego EL Khouri: parece calo a vida que fere e destrói, todos dias ando passando pelo estágio da embriaguez e o que encontro? não sei cinzas talvez

M: perfeito
achou a vastidão livre
e desipmedida
sem fronteiras
sem leis
esse é o rumo vazio e distante
não há volta
é um caminhinho solitario e frio
a única cobaia seremos nós
nossa vontade de se perder
e encontrar esse campo
alienado
infinito
de desencontro
genuino
primal

D: que campo é esse? ao menos teria uma xaminé, fumaça e umas vacas pastando, quero não mais pastar meu caro, tem cortes? eu tenho, sua poesia é a viagem mais delirante e bela que já vi, sou sombrio, tenho meu pau aqui e as bucetas inflamam a dor

M: deve esquecer a humanidade
recair ao abstrato
formas não evoluidas
pau buceta
penetração
lucro
dinheiro
foda-se tudo isso
somos insetos gigantes
devemos morrer
devemos ser alimentos de outras cadeias
mais poderosas que nós
fugir enqto é tempo
tentar matar para viver
natural
lei humana não existe
existe a lei da natureza
do ser bicho
que quer sangue
eliminação
em nome de nada
somente pela extinção de um competidor

D: um matagal semi perfeito
uma luz sem cor
uma voz muda e chula absurda
obtusa
pele e pelo
cara de palhaço
clown sem dente e sem cu
uma voz
nada
mais

M: somente o tempo poderá fornecer essas malicias
sofrer
dor
são coisas humanas
romper a dor
e o sofrimento

D: malicias se quero é deitar e cerrar os olhos
trepanação sem cortes
amor, carinho, existe?
acho é é voz sem voz
ninguém fala
relincham
somos um entre todos?
não
demônios e anjos
somos a voz que terá sua voz e a minha
quero que eles me esqueçam
todos eles

M: nada disso existe

D: que me trouxeram a doença
o que existe?

M: não existe sentimento
apenas fluxo
instinto
determinação
foco
caça
predador
carinho
amor
isso acabou
nunca existiu
não precisa dessas merdas
mas vai demorar a entender
é dificil aceitar
a solidão
e a catastrofe
entropia
saber degustar o foda-se
não pertencer
estando

D:eu aceito o que aceito quando não estou lúcido, lucidez, Lucilda, lu lu tetéia

M: errado
incorreto
trangressivo
subversivo
subterfugio
exilio
abstração

D:exilioo? é o que espero da vida

M: negação
aceitação
perfeição

D: perfeição
mede esforço
sonho é virtude sem sol

M: não existe esforço

D: e o sol é bosta

M: a correnteza leva
o abismo conduz

D: dharma
visão budista?

M: fique calmo
o fim estará proximo sempre
suspire os ultimos dias
e eles se afastarão por um transe
inóspitos
hostis
sedentos
quebrando ossos


D: sedentarismo
auto flagelação
cadáver poético
sombas
poluição
cocada
coca cola
casa
casamento
namoro
tudo alienação
por que eles lá
querem nos distrair
distração leva a prisão
mas o contrário é também prisão
onde tá a saída?


M: nesse campeonato inutil
flamengo gritando na rua
todo mundo
nessa porra
foda´se
pqp
campeão é o caralho

nem uma bronha me rende...
D: meu fígado ta inchado


M: defuntas frescas


D: acredita?
M: bom sinal
preocupação
angustia
eu tbm não vou ao medico
que se foda
meu dente doi ha uma semana
me entupo de remedio
e cana
isso é bom


D: cana cana?
estou bebendo agora
cerveja

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

SKYLAB E SEU LABORATÓRIO POÉTICO



Zine Vertigem é um palco aberto perante os olhos curiosos de quem cheira arte e não se prende em preconceitos tolos. Rogério Skylab, músico carioca, com certeza é um dos bardos que tem em sua poesia o apelo intenso da arte insubmissa, a arte viva que explode poesia e isso ninguém pode negar. Dentro de um experimentalismo que funde cultura erudita e popular Rogério Tolomei Teixeira, seu nome de batismo, além de compor canções tem um livro de sonetos publicado em 2006 pela editora Rocco chamado Debaixo das rodas de um automóvel e um blog literário, o Godard City http://godardcity.blogspot.com/. Às vezes levado ao ridículo pela crítica reacionária, coloco algum de seus poemas que foram feitos pra ler e não cantar, alguns inclusive como Couve-flor e Curriculum Vitae saiu nesse belo livro:


MARGEM

Desde que me separei dos homens
e me trancafiei no quarto,
tenho escutado a vida.
Como se para escutá-la fosse preciso a margem.

Agora mesmo acabou a novela das oito.
O vizinho do lado está rindo.
Qual é o fato engraçado que o faz rir tanto ?
Será mesmo engraçado ?

Ou será ele um homem feliz ?
A criança chora. O cachorro late.
E o homem ri cada vez mais alto.

Será isso então a vida ?
Esse ruído infinito ?
Esse burburinho que não pára ?



UM CÉU DIÁFANO

Uma nuvem diáfana percorria o céu
seguida por muitas outras.
E eram tantas que pareciam ilhas
flutuantes a singrar mares.

Iam ao sabor dos ventos
até formar um continente,
cuja língua todos conheciam
e era um bálsamo para os ouvidos.

Assim ele ia divagando
enquanto a ambulância não vinha.
E já nem sentia suas pernas esmagadas

sobre o calor insuportável do asfalto.
Um pivete aproveitava para roubá-lo
e ele para mirar o céu diáfano.

O BEIJO DA MORTE

O beijo ali, exposto, nu.
Talvez a nos trazer alguma memória afetiva.
Um outro tempo vindo à tona.

Um beijo anacrônico, que gritava
mais alto que as buzinas de automóveis.
Um beijo em riste, ali.

No meio do passeio público.
Atrapalhando o trânsito dos pedestres.

O beijo insistia contra o olhar
apressado e ansioso
dos que ali passavam.

Obsceno.
Contra o ritmo da cidade.
O que fazer àquilo?

Era um apêndice.
Uma mis-en-cene.
Um corte.

E ninguém haveria de lhes chamar a atenção
porque não era crime.
Era um beijo.

Vermelho
como um sorvete é morango.

Eu via
o que saltava aos olhos
e atrevia.

O beijo na rua.
Como se fosse algo de muito antigo,
de priscas eras.

Agora mesmo,
em meio aos meus afazeres,
o beijo continua.

Úmido
entre as mucosas.

Forçando os músculos da face
e dando algum sentido
ao que me foge à lembrança.

A não ser que fosse
o beijo da morte.

SKYLAB
22/09/07


LAPA

Lapa das putas de ontem.
Cujos olhos são lanças
que correm na escuridão.
Lapa dos olhos que cegam.

Lapa também de hoje.
Dos automóveis que olham
e dos travestis que passam.
( Lapa das pernas, bundas e quadris

que nos arrebatam ).
Lapa de ontem e de hoje.
Dos olhos e das bundas.

Das putas e dos travestis desnudos.
A mesma Lapa de sempre.
Entre elas, um arco, um elo.


GABRIEL O PENSADOR

Contra a ameaça
de me ver transformado
em Gabriel O Pensador,
eu luto.
É uma luta sem tréguas
porque a gente sabe:
sempre existe um Gabriel O Pensador
na tua cola,
pronto pra te abocanhar.
Ao menor descuido,
ele te pega.

SKYLAB/dez 2008

ELA

O cu não é bunda,
o cu não é ânus.
Seu caminho é diferente:
sua geografia, outra.


O cu resiste a metáfora,
a analogia e a qualquer sentido
que o faça outro.
o cu é o cu é o cu é o cu...


Eco do eco,
nao seria nada se nao fosse ela
(pregas, dobras)


entre o céu e o inferno,
o cu e o ego.

EM EXTINÇÃO

Eu gosto de tudo
em extinção:
mico-dourado, urso panda,
boto da Amazônia.

O Homem também: em extinção.
A literatura
(a poesia principalmente).
Se estiver em extinção

é comigo mesmo.
Esse amor sem limites
por tudo que desaparece.

A vela que vai se apagando lentamente.
A língua portuguesa.
O nosso amor... desaparecendo lentamente.


A SETA DE SATÃ

Reta, ela avança, a seta
de satã, essa mesma
por quem guardei tantas esperanças.
Ela voa como se pudesse atingir o alvo.

E erra. Seu destino é esse.
Pra tanto esforço, nenhum êxito.
A seta de satã ressalta
o tempo perdido e a falta de sorte.

Lá vai ela, a toda.
Como uma bala perdida.
Um pedaço de poesia.

A seta de satã sabe,
no vôo que empreende,
o que é estar longe do alvo.

CURRICULUM VITAE

Não tenho curso de informática.
Não fiz estágio em lugar nenhum.
Não sou ligada à Internet.
Não tenho fax, nem micro.

Nome: esqueci.
Faculdade: abandonei.
Não dirijo, nem falo inglês,
se é que você me entende.

Experiência em ficar sentado no sofá
tirando meleca.
E de vez em quando escrever à mão

coisas de somenos importância.
Assim como esse curriculum.
Quem sabe um dia não sou aproveitado ?

COUVE-FLOR

Couve-flor, uma flor em si.
Ensimesmada, sem bouquet.
Que ninguém pudesse pôr na lapela.
Uma flor planejada.

Enfim, uma flor que alimentasse.
Flor-funcional. Inviolável.
Que não produzisse
volúpias como a flor do ópio.

Fosse isso suficiente.
Mas não é. Flor-bruta,
abrupta, que se abre como um cancro.

Flor amarela, flor-infecção.
Como o cu do meu amor.
Perversa e cheia de flocos.

TROMBETA

Assim como o fogo-fátuo
que faz da noite mais escura
uma noite de astros deslumbrantes.
Da luz fuosforescente

que ilumina a minha rua
e às vezes parece a lua cheia.
Ou quando tomo êxtase,
nas noites de solidão e desespero,

e danço a noite inteira
e faço amor contigo uma, duas, três vezes.
Por isso, meu amor, é que eu te digo:

trombeta pode ser o instrumento dos anjos;
mas pode também ser o chá,
através do qual eu os vejo tocando.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O COVEIRO






(Por Ivan Silva)

“Baudelaire me cavou uma cova profunda”
Nessa intriga o advogado aparece.
Defensivo, junto ao juiz de outras tumbas
E vão se ostentando as calunias.

“As flores do mal são terríveis de prova”
E o cenário despenca um gemido.
“Os tonéis são de fundo finitos”
E o ódio duvida e vacila a certeza.

O belo se horripila nos olhos.
As pupilas queimam tamanha frieza
“Onde está afinal essa espúria de cova?”

E a paisagem se entra em discórdia.
“Baudelaire coveiro dos malditos!”
E entra pela boca o verme dos ouvidos.