terça-feira, 30 de julho de 2013

ENGRENAGENS



(Por Diego El Khouri)



                   se romper nas hordas celestiais
o vinho
                             quimérico
    do medo
                              tragando a morte
          para as                                 portas do            desespero
                                                                              escravo dos dias que fugi
carrasco
                                      do tempo que não vi
esse sou                  eu
ausente da        luz                                                   da aurora
egocentrismo  sem
ritmo
riso
             subalterno da manhã
                                  (o mal estar de todas as manhãs)
preso na vida
 e na vida reclamando
                                      sou a puta clamando novo afã
a mente 
            há tempos anda  nada sã
minha mãe é o pecado
por vomitar tamanho asco
acho tudo perdido
            nesse corpo
              cheio de vícios
o álcool ditirâmbico me inflama
                      nervos podres, tudo parece vão
preso  
        mais um dia
grades me devoram a razão
enlouquecido me sinto
e não sinto nada que não seja abismo
Ah eu clamo
               o
                infinito!
melancólico
               infinito!
translúcida imagem do perigo
o sono me sufoca os poros
sei que a doença me levará ao desconhecido
sei que jamais serei ouvido
sou um deus suicida
                        sem reino
                         aqui e
                  nem no paraíso
amarrem os braços para que a poesia cesse
sua voz de escárnio
perfurarem o peito
para que o canto seja fresco e abafado
espezinhem os heróis
para que todos fiquem carecas e sem voz
molestem mulheres para que todos
chupem suas plebes sem métrica
trancafiem sonhos
para que todos se escondem em sua sombra
ouçam minha voz
ela está seca e quebrantada
pois o tapete torto
que os olhos febris reparam
é mania que o século acumula
estou de mente turva e isso ninguém checa 
estou de alma perfurada e ninguém enxerga,
olha essa plebe, esses reis e soldados
superiores ao o que eu
      chamo desesperadamente
( diegoeLkhouri )
: essa

                      merda abafada.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

PERANTE MEUS OLHOS


(Por Diego EL Khouri)


Eu fui feito para ser a tormenta, a calmaria jamais
Odeio-a, embora ela seja prenuncio de tempestade.
                   Luiz Carlos Barata Cichetto




o silêncio  me veste
me seduz
me faz pensar, refletir
no tempo
no ar seco de nossa atmosfera

nas folhas verdes
da primavera
nos garotos abandonados
nos subúrbios

nos cancerosos
nos hospitais
que pagam caro pra morrer

na lepra absurda
que dança frenética
na alma dos mesquinhos
que escondem o pão
e não dividem o vinho

nos receios implantados
por uma minoria nojenta
escravizada pelo poder centralizador
dos ególatras moribundos
donos da grana 
que salva e coibi

penso nas criancinhas vítimas na Palestina
com seus olhares de pranto e força
(não sabem mais o que é brincar)

olho para todos os lados
afim de  ver (me)
mas há um batalhão 
de fantasmas repugnantes
dividindo o mesmo sangue comigo

eles não sabem o quanto eu os odeio

os odeio profundamente
com todas as vísceras revoltas
o olhar no sangue
a boca em fogo intenso

não sabem o quanto
 não sabem...

agarro desesperadamente tua mão
não quero que minha maneira
ridícula de existir nos afaste

e nem  que o meu fracasso
te corte os pulsos
ou te oprima com meu
modo estranho de falar

caminho esguio  sobre teu dorso
renego a última esmola do poeta
na forma mais esdruxula possível

eu sou a regra torta e complexa
o último elemento da razão
 louco peregrino
dragão sem rabo que come teu rabo

pele e pelos se ramificam
através de mim
crio as paisagens mais sombrias
com meu pincel-camaleão

hoje calado porém nunca cego
mijo nos copos dos bares
atravesso  estrelas maiores
voando baixo nos becos, bocas e bordeis
ouvindo ressoar a poesia que corre
nas paredes de suas casas, em suas janelas...

in silent Way - miles davis penetrando fundo
bomba que faz sucumbir nações

minha mente quando componho, bebo, trepo, fumo
é guerra nuclear
choque de infinitos decibéis

eu, anjo vulgar de falo rijo,
me intitulo o rei do universo
o mais forte dos perdedores
o menos idiota dos loucos
deus punheteiro
perdido nas páginas amareladas de Sade
antonin artaud enjaulado
Rimbaud traficante
Ginsberg, LSD,  morfina
toda falange dourada
que sobrevoa por aí
fora do meu alcance

tento inutilmente
que meus braços
me envolvam e sintam
o calor que emana da luz criativa
que produzo nas pinturas

mas é tudo  em vão

as pétalas não tem mais as mesmas cores
o vento não sabe mais o que é o silêncio
a voz emudeceu  de raiva
dos ventres saíram flores
que só baco consegue ver

alexandre grande é minúsculo
perante meus olhos vazios
sou veneno que escorre
das bocas mais famintas e sacanas
de todas as cidades, espaços
- desregrado  sexual
(numa taça de vertigem)

Não... não sou mais o mesmo
que caminha portando dinamites
no letes do esquecimento
ou o delinquente fodendo bucetas
perto da policia truculenta

sou antes de tudo
o transeunte do pensamento
alguém que teve mil vidas
e sobreviveu a todas elas

“perdulário do caos
esbanjador de palavras preciosas”

cachorro louco
filho da puta
miserável, inútil
no rio borbulhante
do sabor concentrado
de sal e pimenta

a luz flamejante dos faróis
tecem bucetas coloridas
desenhadas na pele dos homens
na famosa vila mimosa
recheadas de carne e groselha
nesse banquete já me fartei

certa noite a vista de todos
enquanto chupava meu pau
todo mundo de bocage
veio a tona em minha pele lasciva
sentidos à flor da pele
raios solares
e só em silêncio, nu, de olhos fechados
percebo agora
a voltagem dos sentimentos
de forma livre
ante convencional
sacana
     - divinamente sacana - 
entendo, penso e digo:
meu falo encontrou casa
mas só contigo abrigo


meu falo encontrou casa
mas só contigo abrigo

meu falo encontrou casa

mas só contigo abrigo.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

PEQUENINO CÉU QUE EM CADA MOLÉCULA ECOA


(Por Diego El Khouri)


"Em forma de droga me adotou, me adornou
Partículas gotejantes no céu de minha boca
Vou sorvendo a cada instante droga em forma de veneno
Veneno de tinta que brilha, me entorpece me contagia".
                                                      Samira Hadara


pequenino céu que  em cada molécula ecoa
trazendo nos dentes poeira cósmica e tempestade
um saco de maconha, livros, camisinhas, guardanapos,
a sangue frio (nas hordas de banais fantasmas) dizimaste
numa onda vulcânica poetas que há anos vem  devorar me
alimentando todo tipo de veneno
que também me alimentaste tempos atrás

palhaço desajustado de barba mal feita
calça surrada e olhos negros
caminho na órbita elipsoidal dos desejos
sem pudor ou pecado,
crisálida flor de delírio me consome
sou parto feio que entre o falo e a vulva se confunde

as coisas simples passam por mim
numa velocidade estonteante,
como não queimar arroz
não manchar calças com tinta
ou abaixar a tampa do vaso

minha mente voa como águia
para todos os lados
é lautréamont conduzindo vestes satânicas
os olhos vidrados de nero
nietzsche dançando nu na frente do espelho
a espinha dorsal que modifica o século
é alfred de musset na noite fria e bêbada
os raios azuis da divindade
a vagina quente e molhada
abertas feridas  nas ruínas tingidas de verde
hieróglifos decifrados
com a língua que  desenho
e capricho molestando
todos os delírios visionários
  
ser poeta nesse tempo de merda
“é dar de cara com Artaud
diante do hospício”
de joelhos contemplando o sol
a noite nupcial rebola
em cima dos meus sonhos
feridas que carrego
há exatamente nove anos
quando meu sangue me torturava
e chacoalhava meu corpo e alma
boca no vaso
quatro dias
e alguns meses
enjaulado


“sua multe inteligência
vai te levar para o buraco”
minha mestra me disse
na minha infância querida
seu crâneo tinha fraldas infinitas
seus olhos negros vultos
sua fala dança na atmosfera
“de infinitos girassóis”

sou apenas rei-pau
carl solomon
amante insaciável,
sou tudo que escrevo
tudo que falo
a ameba reluzente
e o fio da meada

acabo sempre falando sobre mim
dos olhos  cansados uivantes
do clarim espontâneo do orgasmo
das pedras macias da calçada
dos passos febris dos artistas natos

sou o meu próprio picadeiro
clown bêbado
b.b. king na cartola
e bob Marley na seda

atravesso o universo
num "rabo de foguete"
porque posso
porque sou
o ser, a fibra
o beijo ardente
a chegada,  a partida

abrem as portas
chego em terra nova
nova morada...

não esqueça o raio
este meu nome: pecado
 meu sonho é teu,
toda a vibração dos poros
os meus e o resto do resto
o silêncio berrado
o grito camuflado
a aurora sempre bela
os postes acesos do começo do dia
crianças nos sinais
pedindo uma nova sombra
a corrida forçada no bosque da freguesia
o vem e vai dos lençóis 
o fascínio do êxtase
(esse mundo que não nos pertence)...


e me resguardo...
me resguardo
na iluminação búdica
no crimes  presentes de arthur rimbaud
na camisinha sempre cheia de esperma
em tudo que vivi, tudo que vivo
meu novo e incandescente amor
na contra corrente sempre bem vinda
(vielas limpas e fedidas)
porrada na cara e nos vasos
das bundas de acadêmicos ventres

esse vai e vem nos pertence, samira
e todas as luas e estrelas são os nossos guias
pela floresta que tudo se encontra
dentro dessas grutas vazias
nas escadas de magias douradas
nos prédios dos elevadores adocicados
e nos canalhas que vencem na vida
porque sabem ser canalhas
e à vida empresto sua sordidez preclara
e todos os adjetivos ousados
(chulos)
e mesmo que portas se fechem
e nos bares desapareça todo álcool,
esse vai e vem sempre será a chave
que nos guiará na floresta industrial
de nossos dias tão precários.